5 de setembro de 2010

O SENHORIO COM MEMÓRIA DE 10 MINUTOS: PATRIMÔNIO DE ROTTERDAM

Já introduzi o assunto no post anterior, mas se tem uma figura que merece um post próprio é o meu senhorio. Chama-se Mr. Vliegenthart. É uma figura absolutamente folclórica que faz parte da cidade. Descobri que na verdade ele tem muito mais do que os 100 apartamentos que eu achava inicialmente. Na verdade trata-se de algumas centenas, segundo confissão dele pro meu novo flat mate alguns meses atrás (do qual ainda vou falar também em outro post). E toda a cidade o conhece porque, além disso, ele é literalmente uma figura de filme. Bem velhinho, careca e enrugado, anda todo curvado, não fala inglês direito (apesar de só lidar com estrangeiros) e trabalha 6 dias por semana de 8 às 8.

Teve um ataque cardíaco 3 meses atrás e falou pra todo mundo que estava na África. Mas todos sabem que não, pois os poucos funcionários dele que cuidam de manter as casas, fazer os contratos e se intitulam "seus filhos" apesar de não serem, confessaram pra alguns que ele estava no hospital e à beira da morte, tadinho. Mas 3 meses depois ele já voltou com toda força à ativa. E as notícias sobre ele correm rápido porque tem até comunidade no Facebook intitulada "Eu moro numa das casas do Mr. Vliegenthart". Com a minha adesão à comunidade, agora somos 360. Enfim, o cara é realmente patrimônio de Rotterdam.


Mas o mais interessante sobre ele é que ele tem uma memória limite de dez minutos!!! E não usa agenda. Então cada encontro que você marca com ele, tem que ligar umas 3 ou 4 vezes, em intervalos de meia hora e em todas ele vai ter esquecido e vai dar um novo prazo pra aparecer. Quando ele disser "15 minutos", é porque está indo direto pra lá, então não dará tempo de esquecer. Normalmente o prazo de 15 minutos só acontece quando é uma menina ligando ou quando se menciona alguma (tipo: Eu e minha namorada estamos aqui esperando o senhor).

No meu último caso tive a sorte de no segundo telefonema estar com uma ex-aluna minha do Brasil (Ana Brandão, super gente boa!) com quem ele também tinha marcado no mesmo lugar e também já tinha esquecido algumas vezes naquele dia. Foi ótimo porque acabamos conversando bastante, estávamos pra nos encontrar já ha algum tempo com contatos por facebook primeiro (desde que ela me viu caminhando na rua uma vez mas não pôde ir falar comigo) e por telefone depois. Quando Mr. Vligen chegou, apesar de termos dito umas 5 ou 6 vezes que não, ele continua achando que ela é minha namorada. Isso foi uma das razões para ele simpatizar de vez comigo.

Na verdade com a história da inglesa louca ele já tinha se solidarizado um pouco comigo e, somado ao fato de eu ter pintado o apartamento anterior (pedi as tintas pra ele e eu mesmo pintei, inclusive estava pintando quando ele foi lá falar comigo sobre a reclamação dela), comprado algumas plantas pra lá (que obviamente trouxe pra cá) e principalmente, somado ao fator da minha nova “namorada”, acabei ganhando a simpatia dele, o que, dizem, é essencial pra se viver nos apartamentos dele, ganhando inclusive alguns descontos inesperados e evitando algumas situações que de tão bizarras chegam a ser cômicas.

Exemplo: Um espanhol, amigo de uma nova amiga, ao voltar de uma viagem de um mês de férias, encontrou seu quarto simplesmente dividido ao meio com suas coisas empurradas pra um canto, uma nova parede e uma dinamarquesa morando na outra metade. Parou de pagar o aluguel desde então (já fazem 5 meses) e o Mr. Vliegen não pode fazer nada porque quebrou o contrato primeiro. Outra situação bizarra foi de uma sueca que chegou em casa e Mr. Vliegen estava usando seu banheiro... Simplesmente estava passando em frente, teve vontade de ir ao banheiro e foi na sua casa mais próxima pra se aliviar. Enfim! Vai ser importante essa simpatia pra evitar esse tipo de situação. Pra minha sorte, meu novo flat mate Também conta com enorme simpatia dele, assim como de todo mundo, pois é de fato muito simpático.

Mas voltando à história, nesse dia ele já tinha me levado em dois apartamentos que eu não gostei, marcando novamente pra mesma tarde, que foi quando eu estava com a brasileira. Só então (e provavelmente pela presença dela) ele resolveu me trazer a uma de suas preciosidades, que parece que ele não mostra pra qualquer um. Sem sombra de dúvida, pela localização, pelo flat mate e pelo quarto (apesar do resto do apartamento ser bem simples) é disparado o melhor de todos os que eu vi aqui em Rotterdam. Por isso assim que entrei falei pra ele: É esse. No próximo post, portanto, conto detalhes tudo sobre esse que já é, sem dúvida, meu endereço definitivo pro resto dessa minha jornada holandesa.

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