8 de setembro de 2010

T.U.Delft - Com justica, considerada a melhor de arquitetura do mundo!

Quando comecei a pesquisar universidades para fazer meu mestrado que já urgia há algum tempo, pensei nao apenas na universidade, mas também no país em que eu iria morar por dois anos. Isso reduziu minha busca a 3 ou 4 paises, pela ordem: Holanda, Alemanha, Espanha, França. A primeira opcao pela holanda se deve não só ao fato de eles terem a cabeça mais "open-minded" do mundo (e isso e fato notório nas ruas, sem porra-louquice, pelo papo e pela sinceridade dos sorrisos mesmo) mas também por que aqui estão 5 ou 6 dos 10 escritorios que mais admiro no mundo (OMA, MVRDV, Un Studio, Mecanoo, Kaas Oosterhuis...) Pois bem; ao dar a partida à minha pesquisa por essa minha primeira opção, aproveitando o contato da minha amiga Claudia Escarlate com um instituto chamado Institute for Housing Studies, comecei a comentar com os professores que davam aula comigo na UFRJ (todos já mestres e no mínimo doutorando) que eu estava aplicando para uma universidade na Holanda... A resposta vinha sempre na forma de outra pergunta e era sempre unânime: "Que maximo, na T.U.Delft?" Conferindo com outros colegas de profissão comecei a entender o respeito que essa instituição tem no mundo inteiro e essa acabou sendo a minha unica opcao na hora de aplicar para o mestrado.


Depois de muito atraso na resposta, o que chegou a me causar uma horrível reação alérgica a stress e ansiedade (uma falta de pelos em trechos da barba, me deixando que nem um dalmata, mesmo quando tento tirar toda barba... Chama-se alopecia e demora em media um ano pra sair!), acabei sendo aceito mas não tendo tempo de aplicar para qualquer bolsa para o primeiro ano, pois todos os prazos ja estavam encerrados. Claro que eu nem quis saber, aproveitei que já era profissional há algum tempo e já tinha algum dinheiro guardado (alem de uma familia maravilhosa que pode me dar todo o apoio e me ajudou a completar o bugdet necessário) e, depois de uma "curta" espera de quase um ano, fiz minhas malas e vim parar nesse universo paralelo chamado "Technische Universiteit Delft". Chegando aqui na holanda, ao conversar com qualquer pessoa e falar que estou fazendo mestrado em Delft a resposta também é unanime e sempre acompanhada de uma cara de espanto: "Oh! So you`re that kind of smart guy", ou "Oh, you`re one of those T.U. genius, then", ou "Oh, then I should respect you more!"... Enfim, todos aqui também a consideram a melhor faculdade do mundo e respeitam a demais (na verdade um holandês e uma suíça já me falaram que é a 2a melhor do mundo, que a melhor está lá na Suíça...)


Bom, pra comecar, a estrutura da universidade é inacreditável. O suporte técnico, o jeito como eles dão aula... Num auditório com 200 alunos o professor fica desenhando tranquilamente num pad que tem à mão e o quadro negro é uma projeção gigantesca onde vai aparecendo o que ele está desenhando, seja num quadro branco quadriculado, seja sobre as fotos que ele está mostrando na projeção... Além disso, se vc perde a hora, não acorda, não está afim de enfrentar a neve do dia ou simplesmente está sem saco de ir para a faculdade, em tempo real - e durante o resto do ano - todas as aulas são armazenadas online no "Blackboard", a que todos os alunos têm acesso. Todos os power points de aulas também ficam lá.
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Mas com essas aulas maravilhosas até aqui nunca tive nenhuma vontade de perder uma aula... Até as aulas de estrutura, que eu odiava na faculdade, aqui são maravilhosas... Fica muito mais fácil o cara explicar as cargas, forças e reações desenhando em cima de fotos reais... Além disso, o professor é sempre ótimo (apenas metade deles são holandeses, o resto é uma seleção do mundo!) e os assuntos são sempre coisas como Arcos e Cabos de aço, Tenso-estrutura (também conhecida como "Lona tensionada", erroneamente, diga-se de passagem, pois na verdade não se trata de lona) enfim, só de assuntos interessantíssimos, ainda que dentro da cadeira de estrutura.



Mas enfim, mais interessante do que a estrutura do curso é o seu espaço físico. O Campus é a coisa mais linda que existe. A antiga avenida central que perpassa todos os prédios foi transformada há poucos anos em um grande parque linear chamado Mekelweg, em projeto do escritório aqui da cidadezinha de Delft mesmo que eu adoro chamado Mecanoo, onde inclusive já tenho alguns amigos brasileiros. A transformação da Avenida em parque era evidentemente necessaria, uma vez que 95% dos estudantes só anda de bicicleta por aqui, não por necessidade, mas pela opção eco-friendly e pela escala das cidades. Nao tem cidade aqui que não se atravesse em 25 minutos de pedalada e elas são extremamente irrigadas de "bike lanes".


Em volta do parque, sempre recheado de estudantes andando de bicicleta pra um lado e pro outro, cada prédio é mais bonito que o outro... Alguns deles, como o pavilhão dos estudios de arquitetura, eu já conhecia há anos por estarem em meus melhores livros sobre arquitetura contemporânea. Pena que não temos mais aulas lá, pois o edifício de arquitetura que ficava ao lado pegou fogo e a faculdade foi transferida pro outro extremo do campus, como vou contar mais adiante








Outro edificio bem famoso (e lindo!) é o da Biblioteca central... Uma enorme rampa gramada por onde podemos passear serve de cobertura e dentro o maior acervo de livros tecnicos do mundo a perder de vista impressiona e chega a emocionar de tanta grandiosidade.










O auditorio central, que se chama AULA(!), se não me engano com capacidade para 1.400 pessoas , tinha originalmente um balanço tão impressionante (na verdade, a parte do auditório de fato ficava toda em balanço) que as pessoas nao tinham coragem de passar por baixo e acabavam não acessando o edifício pela entrada principal... Com isso eles simplesmente tiveram que criar dois pilares "psicológicos" colossais para ajustar o fluxo de pessoas! Nas fotos é possivel ver a diferença entre o concreto aparente original e o novo. O edificio acabou se parecendo mais com uma tanque de "Guerra nas estrelas" mas continua impressionando bastante com sua ode ao brutalismo por fora e seu conforto, luxo e tecnologia por dentro.


Depois que o edificio de arquitetura pegou fogo ano passado ou retrasado e eles tiveram que improvisar em um antigo edificio de administração que fica na outra ponta do campus, na verdade do lado de fora do perimetro original do parque, que esta sendo adaptado pra essa nova posição do edificio de arquitetura, ja nao mais tão priovisória quanto se pretendia a princípio. Na verdade, todos os estudantes de outros cursos invejam o nosso prédio, que é de fato muito bonito, confortável e elegante, alternando a arquitetura do prédio original com grandes galpões de vidro construídos nos vãos dos blocos originais para a instalação do curso de arquitetura lá. Como nao fazia parte do campus, é o único edificio mais antigo, mas com a reforma para adapta-lo acrescentaram um coroamento com janelas todas coloridas que deu um charme todo especial e o identifica na hora como o edificio mais humano, menos tecnico, e portanto, facil de reconhecer como sendo o de arquitetura.


Lá dentro, cada departamento tem um espaço próprio e o espaço do departamento que eu escolhi é simplesmente incrível!!! Na verdade tem tudo a ver com o próprio departamento e portanto comigo. Trata-se da "The Why Factory", cujo lema principal é "The best way to predict the future is inventing it". Muito eu, ne? Lá, alunos de arquitetura, de design e de urbanismo, juntos, pensam a cada semestre alguns possíveis futuros para as nossas cidades. O studio que eu escolhi chama-se "transformers" e parte da premissa de que o adensamento das cidades, do ponto de vista sustentável, pode ser uma coisa boa para diversos recursos naturais, mas cria uma grande dificuldade em termos de um recurso essencial: Espaço. Assim, o objetivo do estudio é pensar, em diversas escalas, em como podemos ter um ambiente mais adaptável: um tijolo que possa esticar e diminuir dependendo da necessidade naquele momento, móveis que possam se adaptar às diversas funções do dia sem precisarmos ter vários espaços sem uso em nossas casas na maior parte do dia, apartamentos que possam aumentar de tamanho num dia de festa, quarteirões inteiros que possam inchar a noite, quando todos estao em casa e diminuir de dia, quando todos saem pro trabalho e a rua precisa de mais espaço para o fluxo congestionado de veículos e pessoas... Enfim! É um studio que foi feito pra mim e pro qual eu nasci sem duvida! Tem muito a ver com o meu trabalho (dentro das minhas limitadas possibilidades, lógico) e eu nao poderia estar mais bem encaixado em qualquer departamento de qualquer universidade de qualquer país desse nosso planeta. Confesso que me emociono só de escrever sobre isso e agora mesmo estou com os olhos cheios de lágrimas de felicidade. Por ter feito escolhas tão certas para vir parar aqui, por ter tido expectativas tão altas e vê-las serem superadas a cada dia que passa, por estar me sentindo tão completo e bem acolhido.

Mas voltando a descricao espacial da faculdade, esse departamento, como nao poderia deixar de ser, tem o espaco mais interessante de todos! As poucas salas de aula ficam todas sob uma enorme tribuna laranja chamada "The monkey`s rock", onde ficamos todos com nossos laptops plugados enquanto ouvimos alguma palestra ou enquanto simplesmente estudamos nas poucas horas vagas.


As palestras são sempre interessantes por um simples fato que é o que mais me instiga em toda essa historia... Esse departamento, o mais novo da faculdade, foi criado há dois anos nao apenas pela T.U Delft, mas por uma uma união entre ela e o escritorio MVRDV que simplesmente está entre os meus maiores sonhos de consumo. Nao tenho qualquer dúvida ao colocá-lo entre os 3 escritorios que eu mais gosto no mundo (junto com o OMA, do Koolhas, tb daqui, e o da Zaha Hadid, iraquiana erradicada na inglaterra que trabalhou anos com o proprio Koolhas). Quem nao conhece o MVRDV, pode ir tratando de checar: http://nl.wikipedia.org/wiki/MVRDV

Pois, pra minha surpresa e deleite, quando entro em sala para a aula inaugural, quem é o meu primeiro professor??? Simplesmente o Winny Maas, cabeça, um dos fundadores e o "M" do MVRDV ("Maas, Van Rijs & De Vries", mas bem que podia ser "Maas, Van Rijs & De Vetyemy" se eu tivesse nascido uns anos antes!) No meu estudio, na verdade, quem dá aula é um outro diretor do MVRDV, o Ulf Hackauf, super simpático e muito bom professor, ao que me parece ate aqui. Na minha sala somos 11, entre alunos de mestrado e de intercambio de bacharelado (meio a meio mais ou menos) todos internacionais! Só tem 1 meio-holandês! Na primeira aula tivemos que fazer uma apresentação do nosso "previous work em 8 slides, que pra variar quase virei a noite preparando minha apresentação, que foi muito bem recebida, os alunos ficaram meio impressionados com a minha experiência, mas o que me interessava mesmo era a opinião do Ulf, que nao pareceu se alterar muito, mas ficou o tempo todo com um sorriso na cara, perguntou algumas coisas e, quando o video da cidade do sexo não funcionou, pediu pra todos botarmos nossas apresentações no sistema do "blackboard" que ele queria ver depois... Enfim, pelo menos passou a tensão de apresentar meu trabalho para alguem do MVRDV!

Além desse studio, tenho tambem outras duas materias: "Seminar on building technology" (a tal que inclui aulas de estrutura) e "Seminar on design process". Ambas são ministradas no edifício de engenharia civil, que também é lindo e tem um auditório maior.


As duas aulas consistem em uma série de palestras, sendo que para a primeira nos deram dois edifícios aqui na Holanda para estudarmos durante o semestre e elaborarmos o trabalho comparando-os ainda a um terceiro edificio a nossa escolha, para no final propor uma reforma a um dos dois. Os edifícios que me deram foram o de arquitetura aqui do campus (para o qual ja tenho toda a minha proposta pensada!) e um outro em Dordrech (20 minutos de trem, como todas as cidades aqui!) que ainda nao fui visitar. Para o outro seminário teremos apenas provas sobre qualquer assunto dado durante qualquer palestra do semestre.

Na primeira palestra, semana passada, o professor, depois de falar mal de inúmeros projetos (realmente horrorosos) de revitalização, mostrou o "Excelente projeto do Mendes da Rocha para a Pinacoteca de Sao Paulo", que adimro tanto que levei meus alunos pra conhecerem ano passado. Mais adiante elogiou também o projeto de Lucio Costa para o Museu das Missões, que também adoro e perdi a chance de visitar quando minha mãe esteve lá com meu irmão e eu nao me lembro porque não pude ir. Enquanto ele falava da pinacoteca tive vontade de comentar, mas acabei me acanhando e desistindo, pois essas palestras sao sempre pra mais de 200 alunos, no auditório de um outro edificio lindo, que é o de Engenharia civil onde estou escrevendo agora enquanto aguardo a proxima palestra. Alias, já é hora de ir pra lá e eu não perco essas palestras por nada, então vou ficando por aqui nesse post.

Beijos e abraços e até o proximo post!!!

4 comentários:

  1. Igór, você é demais !!!!
    Sucesso,aqui vou eu !!!!

    grande beijo,

    Cândida

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  2. Hahahah, vai vira guia da TU, para de divagar e vai estudar rapaz, hahahah!!! Abraços!!!

    Marcos de Oliveira

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  3. Estou pensado fazer também o Mestrado nesta universidade mas sou de Engenharia Electrónica.
    Vc aconselha?

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  4. Boa noite Igor, sou estudante de arquitetura de Brasília, Brasil. tenho q fazer um trabalho sobre a revitalização da área central de Delfit, mas não estou encontrando material na internet, e os que encontro não deixam claro se é apenas uma proposta ou a revitalização de fato. Você poderia me indicar algum site que pudesse me ajudar com essa pesquisa? obrigado. Att Max Martins (maxwelles@hotmail.com)

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